Diálogo I
“O Semeador saiu a semear... sementes caíram em terra boa eproduziram fruto...” ( Marcos 4, 3 . 8 ).
Olhando
com atenção a pregação de Jesus, devemos reconhecer que suas chances de sucesso
eram pequenas, e as resistências à sua mensagem e ao seu Projeto (Boa Nova) eram
muito grandes. Aos adversários que lhe faziam notar isso, o próprio Jesus
respondeu com a parábola do semeador. Este sabe que as sementes que ele espalha
no campo podem encontrar numerosos obstáculos: aves do céu, pedras, espinhos ou
ervas daninhas. Mesmo assim tem a certeza de que, um pouco mais adiante, a
terra dará fruto e produzirá trinta, sessenta, cem vezes por um.
Nessa
perspectiva, somos convidados a não termos um olhar míope, que só vê os
obstáculos que nos cercam agora, ou um olhar preconceituoso, que está limitado
ao nosso egoísmo. Somos convocados a olharmos mais longe, para frente e a sermos
cidadãos do mundo numa Igreja viva. Quanto é certa a nossa fadiga hoje,
igualmente certa será a colheita amanhã. E o que plantarmos hoje, com alegria
recolheremos. [...]
A
missão cristã está diante de nós: muitas famílias e comunidades precisam vivenciar
uma nova Evangelização. Para pensar melhor e enfrentar com mais ardor essa
missão que foi confiada a nós, temos um caminho: manter um diálogo aberto e
permanente com os cristãos e com toda a sociedade. Num mundo que perdeu a
esperança, que vive alienado, por um consumismo desenfreado e selvagem, com uma
economia mortífera, com uma intolerância religiosa que explode em atos de
terrorismo, com um preconceito criminoso contra os menores, a Igreja tem a missão
de manter vivo um processo dialogal. Não convêm que a Igreja tenha a única
palavra sobre todos os assuntos. Assim,
nos diz o Papa Francisco: “Não se deve esperar do magistério papal uma palavra
definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao
mundo” (1).
Há
poucos dias li na internet um comentário de um jovem “cristão” que clamava pela
volta da fogueira da inquisição, para que nela fossem queimados outros jovens
cristãos porque pensam e celebram de modo diferente. Constata-se assim que não
é apenas falta de conhecimento da história e da teologia, mas a onda crescente
da intolerância religiosa que cega o nosso olhar. Criticam os mulçumanos, mas
acabam se comportando da mesma maneira e, o mais grave, entre nós mesmos.
O
teólogo e filósofo Leonardo Boff aborda essa realidade abominável e cada vez
mais presente entre nós, com o seguinte questionamento e resposta:
O que fazer para
superar este impasse da intolerância irracional? Fundamental é viver a ética da
hospitalidade, dispor-se a dialogar e aprender com o diferente, viver a
tolerância ativa, sentir-se humanos. As religiões precisam se reconhecer
mutuamente, entrar em diálogo e buscar convergências mínimas que lhes permitem
conviver pacificamente. Antes de mais nada importa reconhecer o pluralismo
religioso, de fato e de direito. A pluralidade se deriva de uma correta
compreensão de Deus. Nenhuma religião pode pretender enquadrar o Mistério, a
Fonte originária de todo ser ou qualquer nome que quisermos dar à Suprema
Realidade, nas malhas de seu discurso e de seus ritos. Se assim fora, Deus
seria um pedaço do mundo, na realidade, um ídolo. Ele está sempre mais além e
sempre mais acima. Então, há espaço para outras expressões e outras formas de
celebrá-lo que não seja exclusivamente através desta religião concreta (2).
Além
do aspecto dialogal, o desafio do anúncio da fé hoje é comunicá-la numa “nova
linguagem parabólica”. Assim nos diz o papa Francisco: “É preciso ter a coragem
de encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova carne para
a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se
manifestam em diferentes âmbitos culturais”.
Neste
sentido, a nossa coluna será um espaço de participação e de diálogo fecundo e
respeitoso. Caro internauta, a sua palavra será elemento constitutivo para este
diálogo. Participe, apresentando-nos a sua impressão sobre os assuntos
abordados e sugerindo outros temas para serem refletidos neste espaço de
comunicação.
- Evangelli Gaudium 16
- https://leonardoboff.wordpress.com/2015/01/26/as-religioes-e-o-terrorismo/
Pe.
Valdir Campelo Cabral
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