sábado, 25 de abril de 2015

Diálogo II - Pe. Valdir Campelo Cabral

Diálogo II





      Ainda continuando a reflexão sobre o diálogo, o Papa Francisco, inspirado nas palavras de Jesus, anima a Igreja para viver sua vocação de povo da Aliança: comunidade de irmãos e irmãs que se apoiam e, juntos, na unidade, caminham a marcha da vida com fé. Reconhecendo as dificuldades e lutando para superá-las, vamos espalhando cada dia as sementes da Boa Nova do Reinado de Jesus. Só assim venceremos os obstáculos e revelaremos ao mundo nosso amor pela Igreja de Jesus Cristo, que também é nossa.

          Sob essa ótica, o Papa Francisco nos exorta: "Amai a Igreja! Deixai-vos guiar por ela! Nas paróquias, nas dioceses, sede um verdadeiro pulmão de fé e de vida cristã, uma aragem fresca! Nesta Praça [de São Pedro], vejo uma grande variedade, antes, de guarda-chuvas e, agora, de cores e de sinais. Assim é a Igreja: uma grande riqueza e variedade de expressões em que tudo é reconduzido à unidade; a variedade reconduzida à unidade e a unidade é o encontro com Cristo" (1).

      Assim, somente pessoas maduras e autoconfiantes serão capazes de viver na diversidade e com ela aprender. Mas, é importante lembrar que toda e qualquer pessoa pode e deve fazer a experiência da unidade na diversidade. Nós chamamos a isso de uma cultura de paz, aonde se constroem pontes de diálogo, para que, no encontro com o diferente, possamos: Primeiro: reconhecer quem você é de fato e de verdade, sem máscaras e sem adornos. Segundo: qual é o seu fio condutor, ou seja, o fundamento primeiro e último da sua fé. Terceiro: o que você pode aprender com o diferente, sem com isso se perder ou diluir. Quarto: reconhecer e valorizar aspectos humanizantes e até divinos do outro, e por que não? A beleza do jardim está exatamente na diversidade de cores que o compõe. 

        Tudo isso aprendemos com Jesus, o Mestre. Sim, Jesus pregou a Boa Nova do Reinado de Deus e deixou com os seus discípulos e apóstolos a missão de divulgá-la e comunicá-la verbalmente e por escrito. Assim fazendo, abriu-nos à diversidade. A Igreja recolheu os evangelhos escritos de Marcos, de Mateus, de Lucas e de João. Mas também temos os escritos evangélicos de Pedro, de Paulo, de Tiago... Ora! Essa variedade é realmente muito importante e significativa.

       Cada um dos Evangelistas nos apresenta uma ótica diferente do mesmo evangelho de Jesus, que embora sendo único, nos é apresentado com nuanças diversas. Sim, Jesus quis que seu evangelho fosse vivido e expressado levando em conta as características da vida das pessoas e das comunidades (tempo, espaço, cultura...). Assim nos diz José Comblin: “O que importa não é a síntese dos evangelhos, mas a sua leitura sempre renovada e a sua compreensão em meio às mais diversas condições em que os diferentes povos se encontram. [...] Embora sempre o mesmo, o evangelho está sendo continuamente descoberto, como que reinventado, renascendo na diversidade das condições humanas” (2). Não se trata de limitar os evangelhos aos nossos limites e ideias, às nossas opiniões pessoais, ao nosso olhar enquadrado. Para compreender bem o anúncio do Evangelho se faz necessário um coração em sintonia com a história e que escute a palavra do Senhor Jesus em uníssono com a Igreja e seu Magistério autêntico. Desta forma, podemos nos questionar: quantas ‘cores’ têm os evangelhos? Como Jesus transitava nos mais diversos espaços, encontrava e dialogava com as mais diversas pessoas? Aí está um apelo para que também nós tenhamos sempre um diálogo aberto, franco e respeitoso com todos e, especialmente, com o diferente.



(1) PAPA FRANCISCO. Santa Missa por ocasião do dia das Confrarias e da Piedade Popular, 05.05.2013;



(2) COMBLIN, José. Evangelizar. São Paulo: Paulus, 2010.



   Pe. Valdir Campelo  Cabral   

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